Pedro: Bom dia, boa tarde, boa noite, fala galera. A gente está aqui mais uma vez eu e Giulia cuidando da casa dos agilistas, tudo bem Giulia?
Giulia: E aí, pessoal, joia? E aí, Pedro?
Pedro: Hoje a gente inicia uma série de episódios que vão abordar tendências em diversas disciplinas de gestão de produtos e para a gente conversar um pouco sobre tendências em produto, nós trouxemos dois especialistas aqui no tema, então estão aqui com a gente a Yas, tudo bem Yas?
Yasmin: Oi gente, bom estar aqui de volta.
Pedro: Beleza? E de São Paulo com a gente também o Alexandre, Alê, não é, Alexandre é sério demais, não combina não. Fala aí, Alê?
Alexandre: E aí pessoal, tudo bem?
Pedro: Seguinte, a pouco tempo, a gente fez um episódio que foi de certa forma uma reedição do fucking first step e a gente reforçou a mensagem de a importância de focar na execução, principalmente nesse momento com mais restrições, investimentos mais reduzidos, e aí eu queria abrir a nossa conversa hoje com a seguinte pergunta, a disciplina de produto ela está sempre em evolução, passou por uma grande montanha russa durante principalmente o período pandêmico nos últimos anos, surgiu curso de produto para todo lado.
Giulia: Para todo lado, 300 por dia.
Pedro: Não que eu não goste dos cursos, acho que tem cursos muto bons, mas cada um tem que avaliar o que é certo para o seu momento, e aí, Yas, o que a gente pode esperar em produtos em um futuro próximo diante desse cenário que eu acabei de descrever aqui?
Yasmin: Vamos lá. Assim, não ouso fazer análises econômicas, não é meu pedaço do mundo aqui tentar analisar o mercado, mas eu acho que o meu comentário aqui vai ser do que eu estou percebendo já que está acontecendo. Como a gente que trabalha com isso vai sentindo, tanto no nosso dia a dia aqui na DTI, quanto com a comunidade que a gente conversa, acho que nesse momento, nesse próximo ano provavelmente vocês falaram isso no episódio anterior, é um momento de mais austeridade, que as empresas vão olhar para os investimentos com um foco maior, vão encontrar oportunidades de cortar custos, então eu acho que para todas as outras disciplinas, assim como para produto vai ter uma cobrança maior por produtividade. Vai ter uma cobrança maior por entrega de resultado, e aí você pode falar assim nossa, mas isso sempre teve, não é? É, teve, mas agora vai apertar mesmo, eu acho, todo mundo vai estar com uma justificativa muito na ponta da língua de como que você faz o seu processo, seu trabalho, sua profissão, sua disciplina estar gerando valor. E aí para produto, especificamente, isso é mais relevante ainda, porque eu acho que produto é uma disciplina que é muito questionada ainda em muitos lugares, em muitas empresas tradicionais. Enquanto desenvolvimento eu acho, parece menos questionado um pouco, porque poxa, alguém tem que desenvolver o software. Mas quando fala de produto, fala a não, mas alguém tem faz o backlog, ou a não, alguém cuida disso, então eu acho que produto é uma disciplina que ainda é fácil de ser questionada, é nesse contexto ainda mais. Então eu imagino que nós pessoas de produtos temos que estar muito preparadas para responder muito bem porque a nossa atuação, gera valor e principalmente garante qualidade e proatividade, porque se não garantisse isso também acho que seria questionado. Então essa é a minha aposta.
Giulia: E aí já facilitando com o Alê, diante de isso tudo que a Yas comentou qual é a diferença que a gente pode apostar aí, e eu sei que não tem receita de bolo, mas qual uma das diferenças ou alguns diferenciais que a gente poderia mencionar de se ter uma pessoa que é realmente especialista de produto ao invés de a gente simplesmente vamos cortar, vamos colocar só um time de engenharia e a gente coloca um stake holder que tem conhecimento de negócio, mas nunca atuou na área, tem diferença?
Alexandre: Tem, tem sim. Acho que juntando com o que a Yas comentou, acho que o primeiro passo aqui que a gente vai precisar comentar é assim, um cenário econômico diferente a gente já precisa mudar o quanto de investimento em produto a gente vai ter, isso já muda muito como a gente vai lidar com quanto de dinheiro para a parte de produtos a gente vai alocar dentro de cada produto. Isso envolve o quanto a empresa vai estar disposta a investir em cada produto, isso começa nas pessoas. Mas muitas vezes tem aquela sensação de colocar uma pessoa que está ali dentro da empresa já para conduzir o papel de uma pessoa de produto, e essa sensação de economia as vezes a empresa confunde e esquece que a pessoa de produto ela é um papel de liderança. Esse papel de liderança está conduzindo todo um time para melhoria de um produto na direção da entrega de resultado, então a importância de uma pessoa de produto que já conhece a metodologia, que vai direcionar toda a liderança de um time para um resultado é muito importante. Essa é a importância de saber conhecer a metodologia para direcionar isso para um caminho que vá gerar resultado, então saber a metodologia, conhecer as técnicas, saber do que se está fazendo, essa é a principal diferença de colocar um stakeholder, uma pessoa do negócio que conhece só da empresa pode ser um tiro no pé na hora de selecionar essa pessoa para conduzir todo um time.
Yasmin: Sabe o que eu acho também, Alê, nessa linha, as vezes você economiza, vamos lá, vou colocar uma de produtos, vou colocar alguém que já está na minha empresa. Economizou, legal, mas pode gerar um desperdício grande lá na frente porque uma das coisas que a pessoa de produto faz, a pessoa de formação em produto faz que não dá para substituir é organizar vem o trabalho.
Alexandre: Sim.
Yasmin: Do time de desenvolvimento de tal forma que ele, a gente está encontrando oportunidades de fazer o mínimo, a gente está encontrando oportunidades de gerar valor mais rápido, a gente está refinando as coisas para não dar retrabalho, isso tudo, esse dia a dia desse trabalho grande, braçal que a pessoa de produto faz as vezes é subestimado. E quando não é isso que acontece, retrabalho no desenvolvimento, no meio do desenvolvimento descobre que a regra de negócio estava mal refinada, pega e faz de novo, ou demora meses e meses para entregar, imagina o tanto de desperdício que não vai nessa brincadeira por causa de uma economia porca lá atrás, entendeu? Acho que esse é um negócio que tem que pensar com bastante carinho.
Pedro: Eu acho que inclusive, independente do impulso de colocar essas pessoas estar sendo gerado pelo cenário agora mais restrito, eu acho que esse desejo já existia antes, eu vejo até alguns clientes justificarem, se eu colocar uma pessoa aqui que é do negócio ela vai ter mais autonomia para navegar e tudo mais. Então assim, não é que não exista o lado bom, os benefícios de se ter uma pessoa empoderada, vamos dizer assim, no papel, só que ela não souber executar não vai adiantar muita coisa, não é? No meu passado de scrum master eu acho que eu vivi isso várias vezes, em diversos exemplos, e estava até conversando com a Giulia outro dia e acho que era para outro episódio até, mas era assim, o que fazer quando chega uma pessoa que não é de produto, que a gente tem que ver o onboarding dela dentro de um time de produto? Uma pessoa sem background nenhum. E eu já observei vários comportamentos, já vi aquele que não se interessou muito pela disciplina e no fim as pessoas dos outros papéis do time acabam herdando as responsabilidades dela.
Yasmin: Porque alguém vai ter que fazer, não é?
Alexandre: Porque alguém vai ter que fazer, aí causa overloading, operação mais desorganizada, vários problemas, e já vi o PO/PM ansioso também, cara, eu vou entrar, vou fazer o curso, aí os cursos novamente. Assim, eu acho que onde eu já vi mais sucesso é a pessoa que chega com calma, apesar de ter interesse no papel e que a gente vai compartilhando devagarzinho a responsabilidade com ela até que ela se forme realmente dentro daquilo ali. Mas de fato, é aquilo que você falou, o tempo que isso leva pode no fim ter custado mais caro do que de fato colocar uma pessoa especialista ali.
Giulia: Pois é, e até depende de a pessoa estar disponível, porque muitas das vezes a pessoa continua fazendo a função que ela já tinha e apenas acumula, que é o que a gente estava comentando que gera outros acúmulos para outras pessoas do time também, então vai virando uma grande bola de neve.
Alexandre: E querer aprender também, ela precisa querer aprender, porque tem várias pessoas que caem de paraquedas e as vezes nem necessariamente queriam estar nesse papel a gente já viu vários clientes que colocam pessoas que não necessariamente queriam estar lá, mas caíram de paraquedas e não queriam estar necessariamente na posição, então fica mais difícil ainda. A gente tem que ensinar para uma pessoa que não necessariamente quer aprender a disciplina, então fica mais difícil ainda.
Yasmin: Eu acho que essa diferenciação é bem importante, viu gente, porque beleza, se a empresa encontrou a oportunidade de pegar alguém do negócio que já está na empresa, mas que quer essa carreira de produto aí beleza, eu acho legal, acho que está, com tanto que você entenda que essa pessoa…
Alexandre: Sim, é uma posição importante.
Yasmin: … isso, contanto que você entenda que essa pessoa vai ter um tempo de formação, mas vai chegar lá, ótimo, se ela tem o tempo a vontade, beleza, não é esse ponto que a gente está criticando não. O negócio é vou economizar e colocar alguém lá para quebrar um galho para participar da daily, aquela coisa meio fictícia quase, é esse aí que eu acho que gera um desperdício gigantesco no final das contas.
Giulia: É, é a lógica do dois pelo preço de um que não dá nem meio no final.
Yasmin: Exatamente.
Pedro: Justamente o tempo pode ser um dos recursos mais preciosos esse ano, porque além desse impulso por reduzir papéis, condensar os papeis, etc., a gente pode ter ainda a volta do escopo fechado, que já está todo mundo arrepiado só de falar. E aí, bom, eu queria que você comentasse um pouquinho para a gente, Yas, fechar o escopo das soluções é caminho também para diminuir custo, você recomenda? Quais seria o melhor caminho?
Yasmin: Se eu falar que eu recomento escopo fechado vou ser nunca mais convidada para os agilistas na minha vida.
Pedro: Eu perguntei só…
Yasmin: Olha, o que eu acho. Engraçado, o Szuster fala muito disso aqui em vários episódios, a gente tem uma necessidade por controle, o ser humano, que é gigantesca, a gente se sente em paz com controle. Nesses tempos de mais austeridade ainda mais, aí que aflora mesmo a necessidade de sentir que você está no controle da coisa. E aí nesse contexto escopo fechado parece que dá muito controle, porque poxa, eu tenho certeza, certeza entre muitas aspas, eu estou fazendo aspas com as mãos, tá gente? Em muitas aspas que eu vou conseguir entregar aquilo que eu imagino no tempo certo mantendo aquele valor, então te dá uma sensação de conforto. Mas a gente está cansado de saber, a gente que trabalha nesse mundo que não é bem assim, que não dá, principalmente para você adivinhar o que você tem que entregar na largada, esse é o ponto que eu acho que continua fazendo do escopo fechado uma grande maldição, que é se comprometer logo no início com a entrega lá no final, tentando prever o futuro, ainda mais nesse momento incerto que a gente está vivendo, olha que difícil prever o futuro. A gente acabou de passar por alguns anos que a gente não conseguiu nem prever o próximo mês, então não dá para prever p futuro. Mas aí eu fico pensando, as pessoas têm essa necessidade um pouco de um controle, de mais segurança, o que dá para fazer então no meio do caminho que não é nem o escopo fechado, mas também não é aquela incerteza toda que muita gente tem com esse mundo das sprints de duas semanas, que é assim, então tá, eu só sei as próximas duas semanas, e aí, vocês vão ficar desenvolvendo isso para o resto da vida?
Pedro: O que deixa os stakeholders ansiosos até.
Yasmin: E aí, de duas em duas semanas a gente vai quando? Quantos anos? Eu diria, e é uma coisa que eu particularmente gosto de fazer, planejar ciclos de três meses, por exemplo. Três meses já não é um negócio absurdo que eu não sei, que é um futuro muito longínquo que eu não sei o que vai acontecer, então eu posso fazer algumas apostas um pouco mais certeiras. Eu posso até estar errada, mas também não é tão absurdo, e aí me comprometer ali com o timo, como pessoa de produto, com os stakeholders do nosso planejamento nos próximos três meses o que eu pretendo entregar de valor até lá e o compromisso de ao final dos três meses reavaliar a rota. Então assim, essa é uma forma de ir medindo o valor e ir medindo o retorno em cima do investimento de três em três meses, me parece muito mais…
Pedro: Razoável.
Yasmin: …é, e melhor mesmo, porque poxa, eu posso em seis meses descobrir que não era isso que eu estava imaginando ao invés do meu escopo original de um ano e seis meses. Então eu diria não voltem com escopo fechado, por favor, tenham outras alternativas ainda dentro desse contexto ágil para tentar dar um pouco mais dessa sensação de previsibilidade que eu concordo que é importante sim.
Pedro: E nesse universo a sensação que eu tenho é que quem não conseguir trabalhar com incertezas vai sofrer mais, porque vai ter essa tendência a cair nos moldes antigos de projeto e bom, a gente já sabe os pitfalls.
Giulia: Pois é, a natureza do problema não muda, continua sendo um mundo complexo, com problemas que mudam constantemente.
Alexandre: E acho que só para complementar também esse assunto, uma coisa que também é importante pensar nesse contexto que a gente colocou no começo do episódio é dado que a gente está em um cenário de insegurança também acho que o pessoal está querendo saber como é que a gente pode mudar um pouco para esse cenário que a gene está, as vezes é melhor reduzir a quantidade de coisas que estamos fazendo. Se a gente reduz e dá foco no que está fazendo a gente consegue reduzir também as incertezas, você começa a colocar esforço em menos coisas, foca um pouco mais, isso ajuda também a gente a reduzir as incertezas e colocar esforço naquilo que a gente acredita mais, então isso também pode ser uma coisa que ajuda bastante nesse cenário de grandes incertezas, de a parte econômica que está gerando as incertezas. Também é uma coisa que para esses momentos de incerteza ajudam a reduzir a incerteza, focar naquilo que a gente acredita mais.
Pedro: E sabe o que eu acho irônico? É que assim, a gente está percebendo os clientes com essa vontade já, escolhendo mais, querendo dar mais foco, selecionando um pouco as iniciativas para dar foco nelas. E aí isso que a gente sempre quis que eles fizessem, então parece que precisa vir o momento da escassez para trazer a oportunidade.
Alexandre: Perfeito.
Pedro: Que na verdade pode ser superpositivo.
Yasmin: Eu acho que se a gente conseguir passar por esse cenário sem voltar a antigos paradigmas, até culturais que eu digo, porque isso que me deixa realmente preocupada, voltar para um paradigma antigo, comando e controle muito grande, que os times não têm autonomia, perder essa possibilidade de experimentação que foi duramente conquistada em muitos anos de mudança, acho que realmente pode ser um exercício legal sim, para ser até melhor para a gente. Todo mundo, não é só a disciplina de produto não, todas as disciplinas, pode ser muito positivo no final das contas.
Pedro: Nossa, de acordo. Outro aspecto que a gente observa que talvez remeta um pouco mais aos moldes antigos é que eu acho que vem um pouco mais de demandas top down também, a gente tem os alto executivos sofrendo super pressão, eles tem as razões deles, eles estão na pressão do negócio no dia a dia e eu acho que vão vir mais demandas nesse sentido, o que não quer dizer que a gente não tem que se envolver com as razões pelas quais essa demanda está chegando, entender melhor o contexto, o cenário que está acontecendo ali. Eu sou o chato do golden circle, comece pelo porquê, eu sempre falo isso. Em todo material para cliente eu dou um jeito de incluir isso, então assim, acho que uma dica que poderia ficar é essa também.
Giulia: Demais. Pois é, e aí a gente até já falou sobre contextos em que as vezes o próprio cliente vai querer cortar o papel de produto, ou mesmo que vai ter redução na disponibilidade das pessoas desse papel. Aí Alê, como é que você vê, por exemplo, a gente estava caminhando com produto como um todo em uma via muito de estratégia, estava tendo um foco muito grande em conseguir escalar cada vez mais, as vezes até em c-level, com uma visão de produto com um foco grande em estratégia. Você acha que isso muda, você acha que a gente vai passar a ter mais pessoas de produto que cuidam de ponta a ponta?
Alexandre: Eu acho que como a gente vai até, como eu comentei antes, a gente provavelmente vai ter uma redução no investimento para pessoas de produto, provavelmente esses papeis muito específicos vão ter uma redução de investimento também. Provavelmente as pessoas de produto vão fazer mais coisas, dificilmente a gente deve ter pessoas de produto cuidando só da estratégia. Ainda vão acontecer, a gente ainda vai ter pessoas trabalhando em algumas empresas que já são, já estão muito digitais, já estão em processo de transformação digital a muito tempo, então isso deve acontecer. Mas como mercado, eu vejo que isso deve dar uma desacelerada, eu acho que a gente deve provavelmente dar uma reduzida, não acho que a gente vai ter tantas vagas surgindo para esse tipo de coisa e deve dar uma reduzida onde os PMs vão começar a trabalhar um pouco mais voltados a entrega, um pouco mais focados a trabalhar como se fosse regredir um pouco nessa questão de alavancar, dado ao cenário econômico. A gente vai ter que trabalhar focado mais em entrega, vai estar menos atrelado tanto a estratégia por um tempo, dependendo de como o mercado reagir talvez isso volte. Acho que vai ter uma mudança sim, não sei dizer o quão forte vai ser isso, seria um pouco exagerado, eu vou tentar falar o quanto isso vai reduzir, mas eu vejo que provavelmente deve ter uma redução e a gente deve sentir isso um pouco e ter que entregar um pouco mais, estar um pouco mais voltado para a entrega. Eu fui uma pessoa que começou a carreira de produto muito focado a entrega, e depois eu fui crescendo um pouco mais para a parte de estratégia, então para mim é muito natural essa migração. Para quem está começando a carreira e está pensando muito nessa ideia de ir direto para a estratégia eu acho que é um pouco bom para as pessoas se acostumarem com a questão da execução primeiro.
Pedro: É até perigoso ir direto para a estratégia sem ter a vivência de execução.
Giulia: É, vai ficar em um universo paralelo, nada com nada. As vezes com muito embasamento, baseado no by the book mesmo, mas com pouca vivência…
Alexandre: Mas é que existe um romance de sonhar com a estratégia, de ser sempre os livros, existe todo um romance por trás disso. Eu acho que não vai ser a oportunidade desse ano de as pessoas que sonham muito com o que se lê no livro.
Pedro: É o hype do produto, que as pessoas falam que o produto é o que foi em gestão de projetos de 20 anos atrás, então… e aí surgiram muitas variações do papel de produto, que as pessoas talvez criaram focos muito especialistas, ramificações do papel e que talvez a gente observe isso mesmo agora, ao longo desse ano.
Alexandre: E de novo, cursos para isso, onde você faz cursos para se especializar.
Pedro: Faz mais sentido ouvir o podcast aqui, não é?
Giulia: Achei enviesado, hein?
Alexandre: Achei um pouco enviesado.
Pedro: Olha o jabá aí.
Giulia: Mas olha, a gente está aqui falando e a ideia dessa série de episódios é que a gente tenha um caráter mais prático, que a gente possa falar o dia a dia, aa gente mesmo está falando de ser mais focado em entrega, então assim, a gente fez o episódio do fucking first step de uma forma mais geral, mas o que seria o primeiro passo para quem quer começar 2023 um pouco mais estruturado e conseguindo rodar a disciplina de produto de uma maneira mais saudável.
Pedro: Queremos dicas.
Yasmin: Vamos lá. Eu acredito, mas é até uma crença muito pessoal que eu acho que sempre devia ser assim, mas acho que para a área de produto deixou de ser assim um pouco, que é realmente se preocupar com o ciclo de vida inteiro. O que eu estou querendo dizer com isso? Beleza, seu processo pode começar na descoberta de uma dor, de uma necessidade de um cliente, mas ele só termina quando tem alguma coisa nova em produção, você ter descoberto uma dor, uma oportunidade, fez um belíssimo processo de discovery, refinamento, definição de feature.
Pedro: Isso não é o resultado de fato.
Yasmin: Você não entregou, porque você só entregou de verdade quando o negócio está em produção e alguém está usando. Por que eu estou falando isso? É uma cadeia de um tanto de coisa que tem que acontecer até chegar esse momento maravilhoso de colocar alguma coisa em produção, e eu acho que as pessoas de produto têm que se preocupar com esse fluxo todo, e do seu papel nesse fluxo todo, inclusive na parte braçal que é o desenvolvimento. Isso vai significar fazer um bom refinamento, fazer uma boa priorização, acho que isso vai ser chave mesmo. O negócio é, isso sempre foi importante, isso nunca deixou de ser importante, então não é aqui, nossa agora é importante. Se você se considerava uma pessoa de produto fazendo o seu processinho ali meio separado do resto da galera, do resto do desenvolvimento e meio não estou muito preocupado com o que está acontecendo lá do outro lado eu acho que não é esse o caminho. Eu acho que realmente garantir que todo esse fluxo, esse processo flui e entrega valor, valos só existe quando o negócio existe no mundo real e alguém usa. Discovery engavetado não é valor nenhum.
Giulia: E pode inclusive chegar em um lugar muito confortável, porque assim, dá trabalho para caramba fazer discovery, mas a tomada de decisão fica muito no hipotético, você consegue levantar uma série de informações sobre como poderia, riscos, levantamento de hipóteses, uma série de vários e se, como é que vai ser, previsões que podem ajudar a mitigar o risco, tudo vai ajudar. Mas é na hora que você assume o risco e dá o diacho do primeiro passo de fato que você está caminhando por esse caminho que a Yas comentou, de olhar para o que vai realmente entregar de valor, olhar para o que realmente vai ser tangibilizado lá na frente, que é o que importa. É para isso que a gente está aqui.
Yasmin: E não pode ter esse eu fiz a minha parte, mas os dev não desenvolveram não pode ter isso, entendeu?
Alexandre: É o time todo, time é um só. É.
Yasmin: Qualquer outra variação dessa frase, um culpando o outro, o outro culpando, não é isso entendeu? Então acho que tem que ser, sabe essa… é que aqui na DTI a gente é muito obcecado com flow, de atingir o flow, que significa na minha cabeça, sempre significou atingir essa sequência de atividades que todas as disciplinas fazem juntas de uma forma tão fluida que é quase como se todo mundo fosse da mesma disciplina que é entregar valor, não tem nem… meu sonho. Bem sonhadora, mas é quase como se o time todo não tivesse quase nem distinção de quem é de produto, quem é de engenharia, quem é de design, todo mundo entregando valor o tempo inteiro. Achar esse flow eu acho que é sempre muito importante, agora ficou mais importante ainda.
Pedro: Nossa, e deixa só eu comentar, já que você falou isso, o scrum master que habita em mim ele…
Giulia: Acordou?
Pedro: Sim, ele acordou, porque se a gente ficar, porque inclusive a palavra vai ser produtividade, a gente cansa de repetir isso, mas se a gente ficar buscando produtividade individual isso vai conflitar com o objetivo do time, do grupo. Isso é um perigo gigantesco, se um desenvolvedor ou um cara de produto quiser elevar a sua produtividade sozinho ele vai deixar de colaborar com o cara que está precisando e ajuda ali por exemplo a entrega do time vai ficar menor de qualquer jeito, então isso é um perigo gigantesco. E Alê, você tem aí alguma dica para a gente first step?
Alexandre: O que eu acho que eu colocaria como principal que a gente fala muito e tem talvez muitas referências que falam disso, mas é muito difícil colocar na prática acho que seria a principal coisa para mim é pequenas interações, entregas pequenas. Acho que a gente fala muito disso e é muito difícil de fato fazer, mas para esse momento é a gente quebrar as entregas em pequenas entregas e gerar valor no menor possível, fazer de fato o MVP e a gente transformar isso em pequenas entregas de valor, porque é assim que a gente consegue provar para os stakeholders que o que a gente está fazendo é de fato entrega de valor, que a gente consegue apoio para retroalimentar os projetos e de fato ir conquistando tudo que a gente consegue para gerar esse momento de dificuldade aqui e conseguir gerar valor.
Yasmin: Tem só mais uma coisinha, já que na sequência de fucking first step esse não é nem o primeiro passo, é o passo zero. Se você que está ouvindo não sabe justificar o porquê você está fazendo o que você está fazendo, busque urgentemente uma justificativa boa, uma boa explicação, porque alguém vai te perguntar e você precisa responder.
Pedro: Motivo é…
Yasmin: Não, parece idiota, mas é verdade, gente.
Alexandre: Sim.
Yasmin: No momento em que tinha muito investimento em digital eu acho que tem mesmo, infelizmente, muita iniciativa meio questionável, vou falar questionável.
Pedro: É, ótima palavra.
Yasmin: Que não para muito de pé, você vê que gasta uma grana danada para pouco retorno, não tem nem uma expectativa de retorno. Lógico que sempre vão ter os projetos mais inovadores, uma coisa mais longo prazo, beleza, esses existem tranquilo. Mas você tem que parar para refletir e saber responder isso muito bem, eu acho. Você tem que imaginar que você vai ser convidado para ir no Shark Tank e você tem que se defender lá para ver se você ganha o investimento, todo mundo tinha que saber responder isso. E ser convincente, acho que a pessoa de produto, todos, mas a pessoa de produto principalmente tem que ser convincente em falar a linguagem de negócio.
Pedro: Isso que eu ia te perguntar, quando você fala você são todos vocês do time, não é só o PO, não é só o SM, todo mundo tem que ser capaz de fazer esse pitch, de responder porque você está ali.
Giulia: E assim, o papel da pessoa de produto é extremamente importante nesse sentido porque muitos dos casos vai ser quem vai ter o contato legítimo com a informação, então, principalmente informações de negócio. Para que o time esteja alimentado do que é prioridade, para que o time tenha visão de para onde vai priorizar e porque está fazendo aquilo daquela forma muitas das vezes vai depender da transparência e da passagem de informação da pessoa de produto.
Pedro: Tem que convergir se todo mundo vai trabalhar com o mesmo caminho.
Giulia: É, exatamente, tem que ter diálogo, tem que ter ali a troca. E aí entra um pouco no que a Yas comentou antes de ser esse trabalho de uma maneira muito orgânica e harmoniosa do time como um todo, entendendo que está todo mundo resolvendo o mesmo problema, que está todo mundo buscando essa mesma justificativa aí de porque o time existe.
Pedro: Eu fiz esse exercício nas minhas tribos no ano passado alguns meses atrás, eu obriguei a galera, mentira, não obriguei não.
Yasmin: Coagiu.
Pedro: Eu fortemente encorajei, encorajei fortemente todos os times a preencherem em conjunto com as pessoas do cliente um product canvas, mais simples que fosse. A gente acha que esse exercício por si só já foi sensacional, sabe? Claramente tinham pessoas que não sabiam nem quem era o público-alvo, qual era a necessidade de negócios que aquele produto estava resolvendo, quais os objetivos de negócios que estavam atrelados, então assim, eu acho que de tempo em tempo esse exercício tem que ser feito, tem que estar na rotina.
Giulia: É quase um exercício de análise e síntese, porque muitas das vezes tem conhecimento para caramba, o time já levantou um monte de informação, só que está tudo pairando no universo e ter esses momentos para poder refletir, olhar e falar assim não, espera aí, vamos organizar o que a gente tem. Caramba, se encaixar aqui faz um quebra-cabeças que faz muito sentido, então é de conseguir fazer esses momentos também de reflexão. Acho que isso é uma coisa importante, talvez você consiga até ajudar a gente um porquinho nisso, Alê. Não quer dizer que porque o foco vai estar mais forte em entregas que a parte de reflexão, a parte de entender para que a gente está fazendo as cosias deixe de fazer sentido, não é? Fazer esse movimento de não só entregar, mas refletir em cima do que você está entregando, continua sendo uma coisa muito pertinente.
Alexandre: Eu acho que assim, o foco tem que sempre existir para a gente não gastar esforço naquilo que a gente não deveria estar colocando esforço. Mas a reflexão também é uma coisa superimportante, porque igual a Yas comentou, porque a gente está fazendo algo é uma pergunta que deveria ser feita constantemente, estamos entregando algo que deveríamos, aliás, estamos fazendo algo que deveríamos estar fazendo? Se a resposta for não sei já começa com um grande problema, porque a gente deveria estar sempre se perguntando se o que a gente está fazendo faz sentido, se a resposta é não sei a gente deveria pelo menos investigar Se a resposta for não você com certeza está gastando tempo, se a resposta foi não sei, talvez estamos gastando tempo à toa, acho que além do foco que a Yas falou que é o step zero, não é o primeiro, step zero, concordo totalmente. A reflexão sobre se o que estamos fazendo faz sentido é superimportante.
Yasmin: E só para, disclaimer e de tudo que a gente falou, a gente está dando enfoque em algumas práticas de produto sem tirar a importância de todas as outras que já existem, só porque…
Pedro: Claro.
Yasmin: …nesses momentos de reflexão ou de mais austeridade a galera também a então agora eu não preciso olhar mais para métricas, não preciso mais fazer pesquisa, não gente, calma também, vamos, tudo continua sendo relevante, tudo que a gente até aqui nos agilistas fala exaustivamente. A gente falou, teve um episódio todo sobre produto certo, que é justamente isso, todas as práticas que um time deveria ter para garantir que está acontecendo a coisa certa, então todas continuam valendo, ninguém cancelou a disciplina de produto ainda não, mas eu acho que o que a gente está tentando trazer aqui é só um enfoque mesmo, que deveriam ser dentro desse guarda-chuva de coisas dentro da disciplina de produto que a gente deveria estar mais de olho ainda nesse ano. Como se fosse quase um isso daqui a gente precisa garantir mesmo, inegociável.
Giulia: Exatamente. Bom, gente, temos um episódio.
Pedro: Bom momento para encerrar, com essa reflexão.
Giulia: Até porque vai demorar uns dois dias para poder digerir tudo.
Pedro: Tá certo. Agradecer a presença aí dos nossos convidados Yas e Alê.
Yasmin: Por nada gente, foi um prazer, obrigada pelo convite.
Alexandre: Valeu pessoal.
Pedro: Valei gente.
Giulia: Até mais.
Pedro: Bom dia, boa tarde, boa noite, fala galera. A gente está aqui mais uma vez eu e Giulia cuidando da casa dos agilistas, tudo bem Giulia?
Giulia: E aí, pessoal, joia? E aí, Pedro?
Pedro: Hoje a gente inicia uma série de episódios que vão abordar tendências em diversas disciplinas de gestão de produtos e para a gente conversar um pouco sobre tendências em produto, nós trouxemos dois especialistas aqui no tema, então estão aqui com a gente a Yas, tudo bem Yas?
Yasmin: Oi gente, bom estar aqui de volta.
Pedro: Beleza? E de São Paulo com a gente também o Alexandre, Alê, não é, Alexandre é sério demais, não combina não. Fala aí, Alê?
Alexandre: E aí pessoal, tudo bem?
Pedro: Seguinte, a pouco tempo, a gente fez um episódio que foi de certa forma uma reedição do fucking first step e a gente reforçou a mensagem de a importância de focar na execução, principalmente nesse momento com mais restrições, investimentos mais reduzidos, e aí eu queria abrir a nossa conversa hoje com a seguinte pergunta, a disciplina de produto ela está sempre em evolução, passou por uma grande montanha russa durante principalmente o período pandêmico nos últimos anos, surgiu curso de produto para todo lado.
Giulia: Para todo lado, 300 por dia.
Pedro: Não que eu não goste dos cursos, acho que tem cursos muto bons, mas cada um tem que avaliar o que é certo para o seu momento, e aí, Yas, o que a gente pode esperar em produtos em um futuro próximo diante desse cenário que eu acabei de descrever aqui?
Yasmin: Vamos lá. Assim, não ouso fazer análises econômicas, não é meu pedaço do mundo aqui tentar analisar o mercado, mas eu acho que o meu comentário aqui vai ser do que eu estou percebendo já que está acontecendo. Como a gente que trabalha com isso vai sentindo, tanto no nosso dia a dia aqui na DTI, quanto com a comunidade que a gente conversa, acho que nesse momento, nesse próximo ano provavelmente vocês falaram isso no episódio anterior, é um momento de mais austeridade, que as empresas vão olhar para os investimentos com um foco maior, vão encontrar oportunidades de cortar custos, então eu acho que para todas as outras disciplinas, assim como para produto vai ter uma cobrança maior por produtividade. Vai ter uma cobrança maior por entrega de resultado, e aí você pode falar assim nossa, mas isso sempre teve, não é? É, teve, mas agora vai apertar mesmo, eu acho, todo mundo vai estar com uma justificativa muito na ponta da língua de como que você faz o seu processo, seu trabalho, sua profissão, sua disciplina estar gerando valor. E aí para produto, especificamente, isso é mais relevante ainda, porque eu acho que produto é uma disciplina que é muito questionada ainda em muitos lugares, em muitas empresas tradicionais. Enquanto desenvolvimento eu acho, parece menos questionado um pouco, porque poxa, alguém tem que desenvolver o software. Mas quando fala de produto, fala a não, mas alguém tem faz o backlog, ou a não, alguém cuida disso, então eu acho que produto é uma disciplina que ainda é fácil de ser questionada, é nesse contexto ainda mais. Então eu imagino que nós pessoas de produtos temos que estar muito preparadas para responder muito bem porque a nossa atuação, gera valor e principalmente garante qualidade e proatividade, porque se não garantisse isso também acho que seria questionado. Então essa é a minha aposta.
Giulia: E aí já facilitando com o Alê, diante de isso tudo que a Yas comentou qual é a diferença que a gente pode apostar aí, e eu sei que não tem receita de bolo, mas qual uma das diferenças ou alguns diferenciais que a gente poderia mencionar de se ter uma pessoa que é realmente especialista de produto ao invés de a gente simplesmente vamos cortar, vamos colocar só um time de engenharia e a gente coloca um stake holder que tem conhecimento de negócio, mas nunca atuou na área, tem diferença?
Alexandre: Tem, tem sim. Acho que juntando com o que a Yas comentou, acho que o primeiro passo aqui que a gente vai precisar comentar é assim, um cenário econômico diferente a gente já precisa mudar o quanto de investimento em produto a gente vai ter, isso já muda muito como a gente vai lidar com quanto de dinheiro para a parte de produtos a gente vai alocar dentro de cada produto. Isso envolve o quanto a empresa vai estar disposta a investir em cada produto, isso começa nas pessoas. Mas muitas vezes tem aquela sensação de colocar uma pessoa que está ali dentro da empresa já para conduzir o papel de uma pessoa de produto, e essa sensação de economia as vezes a empresa confunde e esquece que a pessoa de produto ela é um papel de liderança. Esse papel de liderança está conduzindo todo um time para melhoria de um produto na direção da entrega de resultado, então a importância de uma pessoa de produto que já conhece a metodologia, que vai direcionar toda a liderança de um time para um resultado é muito importante. Essa é a importância de saber conhecer a metodologia para direcionar isso para um caminho que vá gerar resultado, então saber a metodologia, conhecer as técnicas, saber do que se está fazendo, essa é a principal diferença de colocar um stakeholder, uma pessoa do negócio que conhece só da empresa pode ser um tiro no pé na hora de selecionar essa pessoa para conduzir todo um time.
Yasmin: Sabe o que eu acho também, Alê, nessa linha, as vezes você economiza, vamos lá, vou colocar uma de produtos, vou colocar alguém que já está na minha empresa. Economizou, legal, mas pode gerar um desperdício grande lá na frente porque uma das coisas que a pessoa de produto faz, a pessoa de formação em produto faz que não dá para substituir é organizar vem o trabalho.
Alexandre: Sim.
Yasmin: Do time de desenvolvimento de tal forma que ele, a gente está encontrando oportunidades de fazer o mínimo, a gente está encontrando oportunidades de gerar valor mais rápido, a gente está refinando as coisas para não dar retrabalho, isso tudo, esse dia a dia desse trabalho grande, braçal que a pessoa de produto faz as vezes é subestimado. E quando não é isso que acontece, retrabalho no desenvolvimento, no meio do desenvolvimento descobre que a regra de negócio estava mal refinada, pega e faz de novo, ou demora meses e meses para entregar, imagina o tanto de desperdício que não vai nessa brincadeira por causa de uma economia porca lá atrás, entendeu? Acho que esse é um negócio que tem que pensar com bastante carinho.
Pedro: Eu acho que inclusive, independente do impulso de colocar essas pessoas estar sendo gerado pelo cenário agora mais restrito, eu acho que esse desejo já existia antes, eu vejo até alguns clientes justificarem, se eu colocar uma pessoa aqui que é do negócio ela vai ter mais autonomia para navegar e tudo mais. Então assim, não é que não exista o lado bom, os benefícios de se ter uma pessoa empoderada, vamos dizer assim, no papel, só que ela não souber executar não vai adiantar muita coisa, não é? No meu passado de scrum master eu acho que eu vivi isso várias vezes, em diversos exemplos, e estava até conversando com a Giulia outro dia e acho que era para outro episódio até, mas era assim, o que fazer quando chega uma pessoa que não é de produto, que a gente tem que ver o onboarding dela dentro de um time de produto? Uma pessoa sem background nenhum. E eu já observei vários comportamentos, já vi aquele que não se interessou muito pela disciplina e no fim as pessoas dos outros papéis do time acabam herdando as responsabilidades dela.
Yasmin: Porque alguém vai ter que fazer, não é?
Alexandre: Porque alguém vai ter que fazer, aí causa overloading, operação mais desorganizada, vários problemas, e já vi o PO/PM ansioso também, cara, eu vou entrar, vou fazer o curso, aí os cursos novamente. Assim, eu acho que onde eu já vi mais sucesso é a pessoa que chega com calma, apesar de ter interesse no papel e que a gente vai compartilhando devagarzinho a responsabilidade com ela até que ela se forme realmente dentro daquilo ali. Mas de fato, é aquilo que você falou, o tempo que isso leva pode no fim ter custado mais caro do que de fato colocar uma pessoa especialista ali.
Giulia: Pois é, e até depende de a pessoa estar disponível, porque muitas das vezes a pessoa continua fazendo a função que ela já tinha e apenas acumula, que é o que a gente estava comentando que gera outros acúmulos para outras pessoas do time também, então vai virando uma grande bola de neve.
Alexandre: E querer aprender também, ela precisa querer aprender, porque tem várias pessoas que caem de paraquedas e as vezes nem necessariamente queriam estar nesse papel a gente já viu vários clientes que colocam pessoas que não necessariamente queriam estar lá, mas caíram de paraquedas e não queriam estar necessariamente na posição, então fica mais difícil ainda. A gente tem que ensinar para uma pessoa que não necessariamente quer aprender a disciplina, então fica mais difícil ainda.
Yasmin: Eu acho que essa diferenciação é bem importante, viu gente, porque beleza, se a empresa encontrou a oportunidade de pegar alguém do negócio que já está na empresa, mas que quer essa carreira de produto aí beleza, eu acho legal, acho que está, com tanto que você entenda que essa pessoa…
Alexandre: Sim, é uma posição importante.
Yasmin: … isso, contanto que você entenda que essa pessoa vai ter um tempo de formação, mas vai chegar lá, ótimo, se ela tem o tempo a vontade, beleza, não é esse ponto que a gente está criticando não. O negócio é vou economizar e colocar alguém lá para quebrar um galho para participar da daily, aquela coisa meio fictícia quase, é esse aí que eu acho que gera um desperdício gigantesco no final das contas.
Giulia: É, é a lógica do dois pelo preço de um que não dá nem meio no final.
Yasmin: Exatamente.
Pedro: Justamente o tempo pode ser um dos recursos mais preciosos esse ano, porque além desse impulso por reduzir papéis, condensar os papeis, etc., a gente pode ter ainda a volta do escopo fechado, que já está todo mundo arrepiado só de falar. E aí, bom, eu queria que você comentasse um pouquinho para a gente, Yas, fechar o escopo das soluções é caminho também para diminuir custo, você recomenda? Quais seria o melhor caminho?
Yasmin: Se eu falar que eu recomento escopo fechado vou ser nunca mais convidada para os agilistas na minha vida.
Pedro: Eu perguntei só…
Yasmin: Olha, o que eu acho. Engraçado, o Szuster fala muito disso aqui em vários episódios, a gente tem uma necessidade por controle, o ser humano, que é gigantesca, a gente se sente em paz com controle. Nesses tempos de mais austeridade ainda mais, aí que aflora mesmo a necessidade de sentir que você está no controle da coisa. E aí nesse contexto escopo fechado parece que dá muito controle, porque poxa, eu tenho certeza, certeza entre muitas aspas, eu estou fazendo aspas com as mãos, tá gente? Em muitas aspas que eu vou conseguir entregar aquilo que eu imagino no tempo certo mantendo aquele valor, então te dá uma sensação de conforto. Mas a gente está cansado de saber, a gente que trabalha nesse mundo que não é bem assim, que não dá, principalmente para você adivinhar o que você tem que entregar na largada, esse é o ponto que eu acho que continua fazendo do escopo fechado uma grande maldição, que é se comprometer logo no início com a entrega lá no final, tentando prever o futuro, ainda mais nesse momento incerto que a gente está vivendo, olha que difícil prever o futuro. A gente acabou de passar por alguns anos que a gente não conseguiu nem prever o próximo mês, então não dá para prever p futuro. Mas aí eu fico pensando, as pessoas têm essa necessidade um pouco de um controle, de mais segurança, o que dá para fazer então no meio do caminho que não é nem o escopo fechado, mas também não é aquela incerteza toda que muita gente tem com esse mundo das sprints de duas semanas, que é assim, então tá, eu só sei as próximas duas semanas, e aí, vocês vão ficar desenvolvendo isso para o resto da vida?
Pedro: O que deixa os stakeholders ansiosos até.
Yasmin: E aí, de duas em duas semanas a gente vai quando? Quantos anos? Eu diria, e é uma coisa que eu particularmente gosto de fazer, planejar ciclos de três meses, por exemplo. Três meses já não é um negócio absurdo que eu não sei, que é um futuro muito longínquo que eu não sei o que vai acontecer, então eu posso fazer algumas apostas um pouco mais certeiras. Eu posso até estar errada, mas também não é tão absurdo, e aí me comprometer ali com o timo, como pessoa de produto, com os stakeholders do nosso planejamento nos próximos três meses o que eu pretendo entregar de valor até lá e o compromisso de ao final dos três meses reavaliar a rota. Então assim, essa é uma forma de ir medindo o valor e ir medindo o retorno em cima do investimento de três em três meses, me parece muito mais…
Pedro: Razoável.
Yasmin: …é, e melhor mesmo, porque poxa, eu posso em seis meses descobrir que não era isso que eu estava imaginando ao invés do meu escopo original de um ano e seis meses. Então eu diria não voltem com escopo fechado, por favor, tenham outras alternativas ainda dentro desse contexto ágil para tentar dar um pouco mais dessa sensação de previsibilidade que eu concordo que é importante sim.
Pedro: E nesse universo a sensação que eu tenho é que quem não conseguir trabalhar com incertezas vai sofrer mais, porque vai ter essa tendência a cair nos moldes antigos de projeto e bom, a gente já sabe os pitfalls.
Giulia: Pois é, a natureza do problema não muda, continua sendo um mundo complexo, com problemas que mudam constantemente.
Alexandre: E acho que só para complementar também esse assunto, uma coisa que também é importante pensar nesse contexto que a gente colocou no começo do episódio é dado que a gente está em um cenário de insegurança também acho que o pessoal está querendo saber como é que a gente pode mudar um pouco para esse cenário que a gene está, as vezes é melhor reduzir a quantidade de coisas que estamos fazendo. Se a gente reduz e dá foco no que está fazendo a gente consegue reduzir também as incertezas, você começa a colocar esforço em menos coisas, foca um pouco mais, isso ajuda também a gente a reduzir as incertezas e colocar esforço naquilo que a gente acredita mais, então isso também pode ser uma coisa que ajuda bastante nesse cenário de grandes incertezas, de a parte econômica que está gerando as incertezas. Também é uma coisa que para esses momentos de incerteza ajudam a reduzir a incerteza, focar naquilo que a gente acredita mais.
Pedro: E sabe o que eu acho irônico? É que assim, a gente está percebendo os clientes com essa vontade já, escolhendo mais, querendo dar mais foco, selecionando um pouco as iniciativas para dar foco nelas. E aí isso que a gente sempre quis que eles fizessem, então parece que precisa vir o momento da escassez para trazer a oportunidade.
Alexandre: Perfeito.
Pedro: Que na verdade pode ser superpositivo.
Yasmin: Eu acho que se a gente conseguir passar por esse cenário sem voltar a antigos paradigmas, até culturais que eu digo, porque isso que me deixa realmente preocupada, voltar para um paradigma antigo, comando e controle muito grande, que os times não têm autonomia, perder essa possibilidade de experimentação que foi duramente conquistada em muitos anos de mudança, acho que realmente pode ser um exercício legal sim, para ser até melhor para a gente. Todo mundo, não é só a disciplina de produto não, todas as disciplinas, pode ser muito positivo no final das contas.
Pedro: Nossa, de acordo. Outro aspecto que a gente observa que talvez remeta um pouco mais aos moldes antigos é que eu acho que vem um pouco mais de demandas top down também, a gente tem os alto executivos sofrendo super pressão, eles tem as razões deles, eles estão na pressão do negócio no dia a dia e eu acho que vão vir mais demandas nesse sentido, o que não quer dizer que a gente não tem que se envolver com as razões pelas quais essa demanda está chegando, entender melhor o contexto, o cenário que está acontecendo ali. Eu sou o chato do golden circle, comece pelo porquê, eu sempre falo isso. Em todo material para cliente eu dou um jeito de incluir isso, então assim, acho que uma dica que poderia ficar é essa também.
Giulia: Demais. Pois é, e aí a gente até já falou sobre contextos em que as vezes o próprio cliente vai querer cortar o papel de produto, ou mesmo que vai ter redução na disponibilidade das pessoas desse papel. Aí Alê, como é que você vê, por exemplo, a gente estava caminhando com produto como um todo em uma via muito de estratégia, estava tendo um foco muito grande em conseguir escalar cada vez mais, as vezes até em c-level, com uma visão de produto com um foco grande em estratégia. Você acha que isso muda, você acha que a gente vai passar a ter mais pessoas de produto que cuidam de ponta a ponta?
Alexandre: Eu acho que como a gente vai até, como eu comentei antes, a gente provavelmente vai ter uma redução no investimento para pessoas de produto, provavelmente esses papeis muito específicos vão ter uma redução de investimento também. Provavelmente as pessoas de produto vão fazer mais coisas, dificilmente a gente deve ter pessoas de produto cuidando só da estratégia. Ainda vão acontecer, a gente ainda vai ter pessoas trabalhando em algumas empresas que já são, já estão muito digitais, já estão em processo de transformação digital a muito tempo, então isso deve acontecer. Mas como mercado, eu vejo que isso deve dar uma desacelerada, eu acho que a gente deve provavelmente dar uma reduzida, não acho que a gente vai ter tantas vagas surgindo para esse tipo de coisa e deve dar uma reduzida onde os PMs vão começar a trabalhar um pouco mais voltados a entrega, um pouco mais focados a trabalhar como se fosse regredir um pouco nessa questão de alavancar, dado ao cenário econômico. A gente vai ter que trabalhar focado mais em entrega, vai estar menos atrelado tanto a estratégia por um tempo, dependendo de como o mercado reagir talvez isso volte. Acho que vai ter uma mudança sim, não sei dizer o quão forte vai ser isso, seria um pouco exagerado, eu vou tentar falar o quanto isso vai reduzir, mas eu vejo que provavelmente deve ter uma redução e a gente deve sentir isso um pouco e ter que entregar um pouco mais, estar um pouco mais voltado para a entrega. Eu fui uma pessoa que começou a carreira de produto muito focado a entrega, e depois eu fui crescendo um pouco mais para a parte de estratégia, então para mim é muito natural essa migração. Para quem está começando a carreira e está pensando muito nessa ideia de ir direto para a estratégia eu acho que é um pouco bom para as pessoas se acostumarem com a questão da execução primeiro.
Pedro: É até perigoso ir direto para a estratégia sem ter a vivência de execução.
Giulia: É, vai ficar em um universo paralelo, nada com nada. As vezes com muito embasamento, baseado no by the book mesmo, mas com pouca vivência…
Alexandre: Mas é que existe um romance de sonhar com a estratégia, de ser sempre os livros, existe todo um romance por trás disso. Eu acho que não vai ser a oportunidade desse ano de as pessoas que sonham muito com o que se lê no livro.
Pedro: É o hype do produto, que as pessoas falam que o produto é o que foi em gestão de projetos de 20 anos atrás, então… e aí surgiram muitas variações do papel de produto, que as pessoas talvez criaram focos muito especialistas, ramificações do papel e que talvez a gente observe isso mesmo agora, ao longo desse ano.
Alexandre: E de novo, cursos para isso, onde você faz cursos para se especializar.
Pedro: Faz mais sentido ouvir o podcast aqui, não é?
Giulia: Achei enviesado, hein?
Alexandre: Achei um pouco enviesado.
Pedro: Olha o jabá aí.
Giulia: Mas olha, a gente está aqui falando e a ideia dessa série de episódios é que a gente tenha um caráter mais prático, que a gente possa falar o dia a dia, aa gente mesmo está falando de ser mais focado em entrega, então assim, a gente fez o episódio do fucking first step de uma forma mais geral, mas o que seria o primeiro passo para quem quer começar 2023 um pouco mais estruturado e conseguindo rodar a disciplina de produto de uma maneira mais saudável.
Pedro: Queremos dicas.
Yasmin: Vamos lá. Eu acredito, mas é até uma crença muito pessoal que eu acho que sempre devia ser assim, mas acho que para a área de produto deixou de ser assim um pouco, que é realmente se preocupar com o ciclo de vida inteiro. O que eu estou querendo dizer com isso? Beleza, seu processo pode começar na descoberta de uma dor, de uma necessidade de um cliente, mas ele só termina quando tem alguma coisa nova em produção, você ter descoberto uma dor, uma oportunidade, fez um belíssimo processo de discovery, refinamento, definição de feature.
Pedro: Isso não é o resultado de fato.
Yasmin: Você não entregou, porque você só entregou de verdade quando o negócio está em produção e alguém está usando. Por que eu estou falando isso? É uma cadeia de um tanto de coisa que tem que acontecer até chegar esse momento maravilhoso de colocar alguma coisa em produção, e eu acho que as pessoas de produto têm que se preocupar com esse fluxo todo, e do seu papel nesse fluxo todo, inclusive na parte braçal que é o desenvolvimento. Isso vai significar fazer um bom refinamento, fazer uma boa priorização, acho que isso vai ser chave mesmo. O negócio é, isso sempre foi importante, isso nunca deixou de ser importante, então não é aqui, nossa agora é importante. Se você se considerava uma pessoa de produto fazendo o seu processinho ali meio separado do resto da galera, do resto do desenvolvimento e meio não estou muito preocupado com o que está acontecendo lá do outro lado eu acho que não é esse o caminho. Eu acho que realmente garantir que todo esse fluxo, esse processo flui e entrega valor, valos só existe quando o negócio existe no mundo real e alguém usa. Discovery engavetado não é valor nenhum.
Giulia: E pode inclusive chegar em um lugar muito confortável, porque assim, dá trabalho para caramba fazer discovery, mas a tomada de decisão fica muito no hipotético, você consegue levantar uma série de informações sobre como poderia, riscos, levantamento de hipóteses, uma série de vários e se, como é que vai ser, previsões que podem ajudar a mitigar o risco, tudo vai ajudar. Mas é na hora que você assume o risco e dá o diacho do primeiro passo de fato que você está caminhando por esse caminho que a Yas comentou, de olhar para o que vai realmente entregar de valor, olhar para o que realmente vai ser tangibilizado lá na frente, que é o que importa. É para isso que a gente está aqui.
Yasmin: E não pode ter esse eu fiz a minha parte, mas os dev não desenvolveram não pode ter isso, entendeu?
Alexandre: É o time todo, time é um só. É.
Yasmin: Qualquer outra variação dessa frase, um culpando o outro, o outro culpando, não é isso entendeu? Então acho que tem que ser, sabe essa… é que aqui na DTI a gente é muito obcecado com flow, de atingir o flow, que significa na minha cabeça, sempre significou atingir essa sequência de atividades que todas as disciplinas fazem juntas de uma forma tão fluida que é quase como se todo mundo fosse da mesma disciplina que é entregar valor, não tem nem… meu sonho. Bem sonhadora, mas é quase como se o time todo não tivesse quase nem distinção de quem é de produto, quem é de engenharia, quem é de design, todo mundo entregando valor o tempo inteiro. Achar esse flow eu acho que é sempre muito importante, agora ficou mais importante ainda.
Pedro: Nossa, e deixa só eu comentar, já que você falou isso, o scrum master que habita em mim ele…
Giulia: Acordou?
Pedro: Sim, ele acordou, porque se a gente ficar, porque inclusive a palavra vai ser produtividade, a gente cansa de repetir isso, mas se a gente ficar buscando produtividade individual isso vai conflitar com o objetivo do time, do grupo. Isso é um perigo gigantesco, se um desenvolvedor ou um cara de produto quiser elevar a sua produtividade sozinho ele vai deixar de colaborar com o cara que está precisando e ajuda ali por exemplo a entrega do time vai ficar menor de qualquer jeito, então isso é um perigo gigantesco. E Alê, você tem aí alguma dica para a gente first step?
Alexandre: O que eu acho que eu colocaria como principal que a gente fala muito e tem talvez muitas referências que falam disso, mas é muito difícil colocar na prática acho que seria a principal coisa para mim é pequenas interações, entregas pequenas. Acho que a gente fala muito disso e é muito difícil de fato fazer, mas para esse momento é a gente quebrar as entregas em pequenas entregas e gerar valor no menor possível, fazer de fato o MVP e a gente transformar isso em pequenas entregas de valor, porque é assim que a gente consegue provar para os stakeholders que o que a gente está fazendo é de fato entrega de valor, que a gente consegue apoio para retroalimentar os projetos e de fato ir conquistando tudo que a gente consegue para gerar esse momento de dificuldade aqui e conseguir gerar valor.
Yasmin: Tem só mais uma coisinha, já que na sequência de fucking first step esse não é nem o primeiro passo, é o passo zero. Se você que está ouvindo não sabe justificar o porquê você está fazendo o que você está fazendo, busque urgentemente uma justificativa boa, uma boa explicação, porque alguém vai te perguntar e você precisa responder.
Pedro: Motivo é…
Yasmin: Não, parece idiota, mas é verdade, gente.
Alexandre: Sim.
Yasmin: No momento em que tinha muito investimento em digital eu acho que tem mesmo, infelizmente, muita iniciativa meio questionável, vou falar questionável.
Pedro: É, ótima palavra.
Yasmin: Que não para muito de pé, você vê que gasta uma grana danada para pouco retorno, não tem nem uma expectativa de retorno. Lógico que sempre vão ter os projetos mais inovadores, uma coisa mais longo prazo, beleza, esses existem tranquilo. Mas você tem que parar para refletir e saber responder isso muito bem, eu acho. Você tem que imaginar que você vai ser convidado para ir no Shark Tank e você tem que se defender lá para ver se você ganha o investimento, todo mundo tinha que saber responder isso. E ser convincente, acho que a pessoa de produto, todos, mas a pessoa de produto principalmente tem que ser convincente em falar a linguagem de negócio.
Pedro: Isso que eu ia te perguntar, quando você fala você são todos vocês do time, não é só o PO, não é só o SM, todo mundo tem que ser capaz de fazer esse pitch, de responder porque você está ali.
Giulia: E assim, o papel da pessoa de produto é extremamente importante nesse sentido porque muitos dos casos vai ser quem vai ter o contato legítimo com a informação, então, principalmente informações de negócio. Para que o time esteja alimentado do que é prioridade, para que o time tenha visão de para onde vai priorizar e porque está fazendo aquilo daquela forma muitas das vezes vai depender da transparência e da passagem de informação da pessoa de produto.
Pedro: Tem que convergir se todo mundo vai trabalhar com o mesmo caminho.
Giulia: É, exatamente, tem que ter diálogo, tem que ter ali a troca. E aí entra um pouco no que a Yas comentou antes de ser esse trabalho de uma maneira muito orgânica e harmoniosa do time como um todo, entendendo que está todo mundo resolvendo o mesmo problema, que está todo mundo buscando essa mesma justificativa aí de porque o time existe.
Pedro: Eu fiz esse exercício nas minhas tribos no ano passado alguns meses atrás, eu obriguei a galera, mentira, não obriguei não.
Yasmin: Coagiu.
Pedro: Eu fortemente encorajei, encorajei fortemente todos os times a preencherem em conjunto com as pessoas do cliente um product canvas, mais simples que fosse. A gente acha que esse exercício por si só já foi sensacional, sabe? Claramente tinham pessoas que não sabiam nem quem era o público-alvo, qual era a necessidade de negócios que aquele produto estava resolvendo, quais os objetivos de negócios que estavam atrelados, então assim, eu acho que de tempo em tempo esse exercício tem que ser feito, tem que estar na rotina.
Giulia: É quase um exercício de análise e síntese, porque muitas das vezes tem conhecimento para caramba, o time já levantou um monte de informação, só que está tudo pairando no universo e ter esses momentos para poder refletir, olhar e falar assim não, espera aí, vamos organizar o que a gente tem. Caramba, se encaixar aqui faz um quebra-cabeças que faz muito sentido, então é de conseguir fazer esses momentos também de reflexão. Acho que isso é uma coisa importante, talvez você consiga até ajudar a gente um porquinho nisso, Alê. Não quer dizer que porque o foco vai estar mais forte em entregas que a parte de reflexão, a parte de entender para que a gente está fazendo as cosias deixe de fazer sentido, não é? Fazer esse movimento de não só entregar, mas refletir em cima do que você está entregando, continua sendo uma coisa muito pertinente.
Alexandre: Eu acho que assim, o foco tem que sempre existir para a gente não gastar esforço naquilo que a gente não deveria estar colocando esforço. Mas a reflexão também é uma coisa superimportante, porque igual a Yas comentou, porque a gente está fazendo algo é uma pergunta que deveria ser feita constantemente, estamos entregando algo que deveríamos, aliás, estamos fazendo algo que deveríamos estar fazendo? Se a resposta for não sei já começa com um grande problema, porque a gente deveria estar sempre se perguntando se o que a gente está fazendo faz sentido, se a resposta é não sei a gente deveria pelo menos investigar Se a resposta for não você com certeza está gastando tempo, se a resposta foi não sei, talvez estamos gastando tempo à toa, acho que além do foco que a Yas falou que é o step zero, não é o primeiro, step zero, concordo totalmente. A reflexão sobre se o que estamos fazendo faz sentido é superimportante.
Yasmin: E só para, disclaimer e de tudo que a gente falou, a gente está dando enfoque em algumas práticas de produto sem tirar a importância de todas as outras que já existem, só porque…
Pedro: Claro.
Yasmin: …nesses momentos de reflexão ou de mais austeridade a galera também a então agora eu não preciso olhar mais para métricas, não preciso mais fazer pesquisa, não gente, calma também, vamos, tudo continua sendo relevante, tudo que a gente até aqui nos agilistas fala exaustivamente. A gente falou, teve um episódio todo sobre produto certo, que é justamente isso, todas as práticas que um time deveria ter para garantir que está acontecendo a coisa certa, então todas continuam valendo, ninguém cancelou a disciplina de produto ainda não, mas eu acho que o que a gente está tentando trazer aqui é só um enfoque mesmo, que deveriam ser dentro desse guarda-chuva de coisas dentro da disciplina de produto que a gente deveria estar mais de olho ainda nesse ano. Como se fosse quase um isso daqui a gente precisa garantir mesmo, inegociável.
Giulia: Exatamente. Bom, gente, temos um episódio.
Pedro: Bom momento para encerrar, com essa reflexão.
Giulia: Até porque vai demorar uns dois dias para poder digerir tudo.
Pedro: Tá certo. Agradecer a presença aí dos nossos convidados Yas e Alê.
Yasmin: Por nada gente, foi um prazer, obrigada pelo convite.
Alexandre: Valeu pessoal.
Pedro: Valei gente.
Giulia: Até mais.
Pedro: Bom dia, boa tarde, boa noite, fala galera. A gente está aqui mais uma vez eu e Giulia cuidando da casa dos agilistas, tudo bem Giulia?
Giulia: E aí, pessoal, joia? E aí, Pedro?
Pedro: Hoje a gente inicia uma série de episódios que vão abordar tendências em diversas disciplinas de gestão de produtos e para a gente conversar um pouco sobre tendências em produto, nós trouxemos dois especialistas aqui no tema, então estão aqui com a gente a Yas, tudo bem Yas?
Yasmin: Oi gente, bom estar aqui de volta.
Pedro: Beleza? E de São Paulo com a gente também o Alexandre, Alê, não é, Alexandre é sério demais, não combina não. Fala aí, Alê?
Alexandre: E aí pessoal, tudo bem?
Pedro: Seguinte, a pouco tempo, a gente fez um episódio que foi de certa forma uma reedição do fucking first step e a gente reforçou a mensagem de a importância de focar na execução, principalmente nesse momento com mais restrições, investimentos mais reduzidos, e aí eu queria abrir a nossa conversa hoje com a seguinte pergunta, a disciplina de produto ela está sempre em evolução, passou por uma grande montanha russa durante principalmente o período pandêmico nos últimos anos, surgiu curso de produto para todo lado.
Giulia: Para todo lado, 300 por dia.
Pedro: Não que eu não goste dos cursos, acho que tem cursos muto bons, mas cada um tem que avaliar o que é certo para o seu momento, e aí, Yas, o que a gente pode esperar em produtos em um futuro próximo diante desse cenário que eu acabei de descrever aqui?
Yasmin: Vamos lá. Assim, não ouso fazer análises econômicas, não é meu pedaço do mundo aqui tentar analisar o mercado, mas eu acho que o meu comentário aqui vai ser do que eu estou percebendo já que está acontecendo. Como a gente que trabalha com isso vai sentindo, tanto no nosso dia a dia aqui na DTI, quanto com a comunidade que a gente conversa, acho que nesse momento, nesse próximo ano provavelmente vocês falaram isso no episódio anterior, é um momento de mais austeridade, que as empresas vão olhar para os investimentos com um foco maior, vão encontrar oportunidades de cortar custos, então eu acho que para todas as outras disciplinas, assim como para produto vai ter uma cobrança maior por produtividade. Vai ter uma cobrança maior por entrega de resultado, e aí você pode falar assim nossa, mas isso sempre teve, não é? É, teve, mas agora vai apertar mesmo, eu acho, todo mundo vai estar com uma justificativa muito na ponta da língua de como que você faz o seu processo, seu trabalho, sua profissão, sua disciplina estar gerando valor. E aí para produto, especificamente, isso é mais relevante ainda, porque eu acho que produto é uma disciplina que é muito questionada ainda em muitos lugares, em muitas empresas tradicionais. Enquanto desenvolvimento eu acho, parece menos questionado um pouco, porque poxa, alguém tem que desenvolver o software. Mas quando fala de produto, fala a não, mas alguém tem faz o backlog, ou a não, alguém cuida disso, então eu acho que produto é uma disciplina que ainda é fácil de ser questionada, é nesse contexto ainda mais. Então eu imagino que nós pessoas de produtos temos que estar muito preparadas para responder muito bem porque a nossa atuação, gera valor e principalmente garante qualidade e proatividade, porque se não garantisse isso também acho que seria questionado. Então essa é a minha aposta.
Giulia: E aí já facilitando com o Alê, diante de isso tudo que a Yas comentou qual é a diferença que a gente pode apostar aí, e eu sei que não tem receita de bolo, mas qual uma das diferenças ou alguns diferenciais que a gente poderia mencionar de se ter uma pessoa que é realmente especialista de produto ao invés de a gente simplesmente vamos cortar, vamos colocar só um time de engenharia e a gente coloca um stake holder que tem conhecimento de negócio, mas nunca atuou na área, tem diferença?
Alexandre: Tem, tem sim. Acho que juntando com o que a Yas comentou, acho que o primeiro passo aqui que a gente vai precisar comentar é assim, um cenário econômico diferente a gente já precisa mudar o quanto de investimento em produto a gente vai ter, isso já muda muito como a gente vai lidar com quanto de dinheiro para a parte de produtos a gente vai alocar dentro de cada produto. Isso envolve o quanto a empresa vai estar disposta a investir em cada produto, isso começa nas pessoas. Mas muitas vezes tem aquela sensação de colocar uma pessoa que está ali dentro da empresa já para conduzir o papel de uma pessoa de produto, e essa sensação de economia as vezes a empresa confunde e esquece que a pessoa de produto ela é um papel de liderança. Esse papel de liderança está conduzindo todo um time para melhoria de um produto na direção da entrega de resultado, então a importância de uma pessoa de produto que já conhece a metodologia, que vai direcionar toda a liderança de um time para um resultado é muito importante. Essa é a importância de saber conhecer a metodologia para direcionar isso para um caminho que vá gerar resultado, então saber a metodologia, conhecer as técnicas, saber do que se está fazendo, essa é a principal diferença de colocar um stakeholder, uma pessoa do negócio que conhece só da empresa pode ser um tiro no pé na hora de selecionar essa pessoa para conduzir todo um time.
Yasmin: Sabe o que eu acho também, Alê, nessa linha, as vezes você economiza, vamos lá, vou colocar uma de produtos, vou colocar alguém que já está na minha empresa. Economizou, legal, mas pode gerar um desperdício grande lá na frente porque uma das coisas que a pessoa de produto faz, a pessoa de formação em produto faz que não dá para substituir é organizar vem o trabalho.
Alexandre: Sim.
Yasmin: Do time de desenvolvimento de tal forma que ele, a gente está encontrando oportunidades de fazer o mínimo, a gente está encontrando oportunidades de gerar valor mais rápido, a gente está refinando as coisas para não dar retrabalho, isso tudo, esse dia a dia desse trabalho grande, braçal que a pessoa de produto faz as vezes é subestimado. E quando não é isso que acontece, retrabalho no desenvolvimento, no meio do desenvolvimento descobre que a regra de negócio estava mal refinada, pega e faz de novo, ou demora meses e meses para entregar, imagina o tanto de desperdício que não vai nessa brincadeira por causa de uma economia porca lá atrás, entendeu? Acho que esse é um negócio que tem que pensar com bastante carinho.
Pedro: Eu acho que inclusive, independente do impulso de colocar essas pessoas estar sendo gerado pelo cenário agora mais restrito, eu acho que esse desejo já existia antes, eu vejo até alguns clientes justificarem, se eu colocar uma pessoa aqui que é do negócio ela vai ter mais autonomia para navegar e tudo mais. Então assim, não é que não exista o lado bom, os benefícios de se ter uma pessoa empoderada, vamos dizer assim, no papel, só que ela não souber executar não vai adiantar muita coisa, não é? No meu passado de scrum master eu acho que eu vivi isso várias vezes, em diversos exemplos, e estava até conversando com a Giulia outro dia e acho que era para outro episódio até, mas era assim, o que fazer quando chega uma pessoa que não é de produto, que a gente tem que ver o onboarding dela dentro de um time de produto? Uma pessoa sem background nenhum. E eu já observei vários comportamentos, já vi aquele que não se interessou muito pela disciplina e no fim as pessoas dos outros papéis do time acabam herdando as responsabilidades dela.
Yasmin: Porque alguém vai ter que fazer, não é?
Alexandre: Porque alguém vai ter que fazer, aí causa overloading, operação mais desorganizada, vários problemas, e já vi o PO/PM ansioso também, cara, eu vou entrar, vou fazer o curso, aí os cursos novamente. Assim, eu acho que onde eu já vi mais sucesso é a pessoa que chega com calma, apesar de ter interesse no papel e que a gente vai compartilhando devagarzinho a responsabilidade com ela até que ela se forme realmente dentro daquilo ali. Mas de fato, é aquilo que você falou, o tempo que isso leva pode no fim ter custado mais caro do que de fato colocar uma pessoa especialista ali.
Giulia: Pois é, e até depende de a pessoa estar disponível, porque muitas das vezes a pessoa continua fazendo a função que ela já tinha e apenas acumula, que é o que a gente estava comentando que gera outros acúmulos para outras pessoas do time também, então vai virando uma grande bola de neve.
Alexandre: E querer aprender também, ela precisa querer aprender, porque tem várias pessoas que caem de paraquedas e as vezes nem necessariamente queriam estar nesse papel a gente já viu vários clientes que colocam pessoas que não necessariamente queriam estar lá, mas caíram de paraquedas e não queriam estar necessariamente na posição, então fica mais difícil ainda. A gente tem que ensinar para uma pessoa que não necessariamente quer aprender a disciplina, então fica mais difícil ainda.
Yasmin: Eu acho que essa diferenciação é bem importante, viu gente, porque beleza, se a empresa encontrou a oportunidade de pegar alguém do negócio que já está na empresa, mas que quer essa carreira de produto aí beleza, eu acho legal, acho que está, com tanto que você entenda que essa pessoa…
Alexandre: Sim, é uma posição importante.
Yasmin: … isso, contanto que você entenda que essa pessoa vai ter um tempo de formação, mas vai chegar lá, ótimo, se ela tem o tempo a vontade, beleza, não é esse ponto que a gente está criticando não. O negócio é vou economizar e colocar alguém lá para quebrar um galho para participar da daily, aquela coisa meio fictícia quase, é esse aí que eu acho que gera um desperdício gigantesco no final das contas.
Giulia: É, é a lógica do dois pelo preço de um que não dá nem meio no final.
Yasmin: Exatamente.
Pedro: Justamente o tempo pode ser um dos recursos mais preciosos esse ano, porque além desse impulso por reduzir papéis, condensar os papeis, etc., a gente pode ter ainda a volta do escopo fechado, que já está todo mundo arrepiado só de falar. E aí, bom, eu queria que você comentasse um pouquinho para a gente, Yas, fechar o escopo das soluções é caminho também para diminuir custo, você recomenda? Quais seria o melhor caminho?
Yasmin: Se eu falar que eu recomento escopo fechado vou ser nunca mais convidada para os agilistas na minha vida.
Pedro: Eu perguntei só…
Yasmin: Olha, o que eu acho. Engraçado, o Szuster fala muito disso aqui em vários episódios, a gente tem uma necessidade por controle, o ser humano, que é gigantesca, a gente se sente em paz com controle. Nesses tempos de mais austeridade ainda mais, aí que aflora mesmo a necessidade de sentir que você está no controle da coisa. E aí nesse contexto escopo fechado parece que dá muito controle, porque poxa, eu tenho certeza, certeza entre muitas aspas, eu estou fazendo aspas com as mãos, tá gente? Em muitas aspas que eu vou conseguir entregar aquilo que eu imagino no tempo certo mantendo aquele valor, então te dá uma sensação de conforto. Mas a gente está cansado de saber, a gente que trabalha nesse mundo que não é bem assim, que não dá, principalmente para você adivinhar o que você tem que entregar na largada, esse é o ponto que eu acho que continua fazendo do escopo fechado uma grande maldição, que é se comprometer logo no início com a entrega lá no final, tentando prever o futuro, ainda mais nesse momento incerto que a gente está vivendo, olha que difícil prever o futuro. A gente acabou de passar por alguns anos que a gente não conseguiu nem prever o próximo mês, então não dá para prever p futuro. Mas aí eu fico pensando, as pessoas têm essa necessidade um pouco de um controle, de mais segurança, o que dá para fazer então no meio do caminho que não é nem o escopo fechado, mas também não é aquela incerteza toda que muita gente tem com esse mundo das sprints de duas semanas, que é assim, então tá, eu só sei as próximas duas semanas, e aí, vocês vão ficar desenvolvendo isso para o resto da vida?
Pedro: O que deixa os stakeholders ansiosos até.
Yasmin: E aí, de duas em duas semanas a gente vai quando? Quantos anos? Eu diria, e é uma coisa que eu particularmente gosto de fazer, planejar ciclos de três meses, por exemplo. Três meses já não é um negócio absurdo que eu não sei, que é um futuro muito longínquo que eu não sei o que vai acontecer, então eu posso fazer algumas apostas um pouco mais certeiras. Eu posso até estar errada, mas também não é tão absurdo, e aí me comprometer ali com o timo, como pessoa de produto, com os stakeholders do nosso planejamento nos próximos três meses o que eu pretendo entregar de valor até lá e o compromisso de ao final dos três meses reavaliar a rota. Então assim, essa é uma forma de ir medindo o valor e ir medindo o retorno em cima do investimento de três em três meses, me parece muito mais…
Pedro: Razoável.
Yasmin: …é, e melhor mesmo, porque poxa, eu posso em seis meses descobrir que não era isso que eu estava imaginando ao invés do meu escopo original de um ano e seis meses. Então eu diria não voltem com escopo fechado, por favor, tenham outras alternativas ainda dentro desse contexto ágil para tentar dar um pouco mais dessa sensação de previsibilidade que eu concordo que é importante sim.
Pedro: E nesse universo a sensação que eu tenho é que quem não conseguir trabalhar com incertezas vai sofrer mais, porque vai ter essa tendência a cair nos moldes antigos de projeto e bom, a gente já sabe os pitfalls.
Giulia: Pois é, a natureza do problema não muda, continua sendo um mundo complexo, com problemas que mudam constantemente.
Alexandre: E acho que só para complementar também esse assunto, uma coisa que também é importante pensar nesse contexto que a gente colocou no começo do episódio é dado que a gente está em um cenário de insegurança também acho que o pessoal está querendo saber como é que a gente pode mudar um pouco para esse cenário que a gene está, as vezes é melhor reduzir a quantidade de coisas que estamos fazendo. Se a gente reduz e dá foco no que está fazendo a gente consegue reduzir também as incertezas, você começa a colocar esforço em menos coisas, foca um pouco mais, isso ajuda também a gente a reduzir as incertezas e colocar esforço naquilo que a gente acredita mais, então isso também pode ser uma coisa que ajuda bastante nesse cenário de grandes incertezas, de a parte econômica que está gerando as incertezas. Também é uma coisa que para esses momentos de incerteza ajudam a reduzir a incerteza, focar naquilo que a gente acredita mais.
Pedro: E sabe o que eu acho irônico? É que assim, a gente está percebendo os clientes com essa vontade já, escolhendo mais, querendo dar mais foco, selecionando um pouco as iniciativas para dar foco nelas. E aí isso que a gente sempre quis que eles fizessem, então parece que precisa vir o momento da escassez para trazer a oportunidade.
Alexandre: Perfeito.
Pedro: Que na verdade pode ser superpositivo.
Yasmin: Eu acho que se a gente conseguir passar por esse cenário sem voltar a antigos paradigmas, até culturais que eu digo, porque isso que me deixa realmente preocupada, voltar para um paradigma antigo, comando e controle muito grande, que os times não têm autonomia, perder essa possibilidade de experimentação que foi duramente conquistada em muitos anos de mudança, acho que realmente pode ser um exercício legal sim, para ser até melhor para a gente. Todo mundo, não é só a disciplina de produto não, todas as disciplinas, pode ser muito positivo no final das contas.
Pedro: Nossa, de acordo. Outro aspecto que a gente observa que talvez remeta um pouco mais aos moldes antigos é que eu acho que vem um pouco mais de demandas top down também, a gente tem os alto executivos sofrendo super pressão, eles tem as razões deles, eles estão na pressão do negócio no dia a dia e eu acho que vão vir mais demandas nesse sentido, o que não quer dizer que a gente não tem que se envolver com as razões pelas quais essa demanda está chegando, entender melhor o contexto, o cenário que está acontecendo ali. Eu sou o chato do golden circle, comece pelo porquê, eu sempre falo isso. Em todo material para cliente eu dou um jeito de incluir isso, então assim, acho que uma dica que poderia ficar é essa também.
Giulia: Demais. Pois é, e aí a gente até já falou sobre contextos em que as vezes o próprio cliente vai querer cortar o papel de produto, ou mesmo que vai ter redução na disponibilidade das pessoas desse papel. Aí Alê, como é que você vê, por exemplo, a gente estava caminhando com produto como um todo em uma via muito de estratégia, estava tendo um foco muito grande em conseguir escalar cada vez mais, as vezes até em c-level, com uma visão de produto com um foco grande em estratégia. Você acha que isso muda, você acha que a gente vai passar a ter mais pessoas de produto que cuidam de ponta a ponta?
Alexandre: Eu acho que como a gente vai até, como eu comentei antes, a gente provavelmente vai ter uma redução no investimento para pessoas de produto, provavelmente esses papeis muito específicos vão ter uma redução de investimento também. Provavelmente as pessoas de produto vão fazer mais coisas, dificilmente a gente deve ter pessoas de produto cuidando só da estratégia. Ainda vão acontecer, a gente ainda vai ter pessoas trabalhando em algumas empresas que já são, já estão muito digitais, já estão em processo de transformação digital a muito tempo, então isso deve acontecer. Mas como mercado, eu vejo que isso deve dar uma desacelerada, eu acho que a gente deve provavelmente dar uma reduzida, não acho que a gente vai ter tantas vagas surgindo para esse tipo de coisa e deve dar uma reduzida onde os PMs vão começar a trabalhar um pouco mais voltados a entrega, um pouco mais focados a trabalhar como se fosse regredir um pouco nessa questão de alavancar, dado ao cenário econômico. A gente vai ter que trabalhar focado mais em entrega, vai estar menos atrelado tanto a estratégia por um tempo, dependendo de como o mercado reagir talvez isso volte. Acho que vai ter uma mudança sim, não sei dizer o quão forte vai ser isso, seria um pouco exagerado, eu vou tentar falar o quanto isso vai reduzir, mas eu vejo que provavelmente deve ter uma redução e a gente deve sentir isso um pouco e ter que entregar um pouco mais, estar um pouco mais voltado para a entrega. Eu fui uma pessoa que começou a carreira de produto muito focado a entrega, e depois eu fui crescendo um pouco mais para a parte de estratégia, então para mim é muito natural essa migração. Para quem está começando a carreira e está pensando muito nessa ideia de ir direto para a estratégia eu acho que é um pouco bom para as pessoas se acostumarem com a questão da execução primeiro.
Pedro: É até perigoso ir direto para a estratégia sem ter a vivência de execução.
Giulia: É, vai ficar em um universo paralelo, nada com nada. As vezes com muito embasamento, baseado no by the book mesmo, mas com pouca vivência…
Alexandre: Mas é que existe um romance de sonhar com a estratégia, de ser sempre os livros, existe todo um romance por trás disso. Eu acho que não vai ser a oportunidade desse ano de as pessoas que sonham muito com o que se lê no livro.
Pedro: É o hype do produto, que as pessoas falam que o produto é o que foi em gestão de projetos de 20 anos atrás, então… e aí surgiram muitas variações do papel de produto, que as pessoas talvez criaram focos muito especialistas, ramificações do papel e que talvez a gente observe isso mesmo agora, ao longo desse ano.
Alexandre: E de novo, cursos para isso, onde você faz cursos para se especializar.
Pedro: Faz mais sentido ouvir o podcast aqui, não é?
Giulia: Achei enviesado, hein?
Alexandre: Achei um pouco enviesado.
Pedro: Olha o jabá aí.
Giulia: Mas olha, a gente está aqui falando e a ideia dessa série de episódios é que a gente tenha um caráter mais prático, que a gente possa falar o dia a dia, aa gente mesmo está falando de ser mais focado em entrega, então assim, a gente fez o episódio do fucking first step de uma forma mais geral, mas o que seria o primeiro passo para quem quer começar 2023 um pouco mais estruturado e conseguindo rodar a disciplina de produto de uma maneira mais saudável.
Pedro: Queremos dicas.
Yasmin: Vamos lá. Eu acredito, mas é até uma crença muito pessoal que eu acho que sempre devia ser assim, mas acho que para a área de produto deixou de ser assim um pouco, que é realmente se preocupar com o ciclo de vida inteiro. O que eu estou querendo dizer com isso? Beleza, seu processo pode começar na descoberta de uma dor, de uma necessidade de um cliente, mas ele só termina quando tem alguma coisa nova em produção, você ter descoberto uma dor, uma oportunidade, fez um belíssimo processo de discovery, refinamento, definição de feature.
Pedro: Isso não é o resultado de fato.
Yasmin: Você não entregou, porque você só entregou de verdade quando o negócio está em produção e alguém está usando. Por que eu estou falando isso? É uma cadeia de um tanto de coisa que tem que acontecer até chegar esse momento maravilhoso de colocar alguma coisa em produção, e eu acho que as pessoas de produto têm que se preocupar com esse fluxo todo, e do seu papel nesse fluxo todo, inclusive na parte braçal que é o desenvolvimento. Isso vai significar fazer um bom refinamento, fazer uma boa priorização, acho que isso vai ser chave mesmo. O negócio é, isso sempre foi importante, isso nunca deixou de ser importante, então não é aqui, nossa agora é importante. Se você se considerava uma pessoa de produto fazendo o seu processinho ali meio separado do resto da galera, do resto do desenvolvimento e meio não estou muito preocupado com o que está acontecendo lá do outro lado eu acho que não é esse o caminho. Eu acho que realmente garantir que todo esse fluxo, esse processo flui e entrega valor, valos só existe quando o negócio existe no mundo real e alguém usa. Discovery engavetado não é valor nenhum.
Giulia: E pode inclusive chegar em um lugar muito confortável, porque assim, dá trabalho para caramba fazer discovery, mas a tomada de decisão fica muito no hipotético, você consegue levantar uma série de informações sobre como poderia, riscos, levantamento de hipóteses, uma série de vários e se, como é que vai ser, previsões que podem ajudar a mitigar o risco, tudo vai ajudar. Mas é na hora que você assume o risco e dá o diacho do primeiro passo de fato que você está caminhando por esse caminho que a Yas comentou, de olhar para o que vai realmente entregar de valor, olhar para o que realmente vai ser tangibilizado lá na frente, que é o que importa. É para isso que a gente está aqui.
Yasmin: E não pode ter esse eu fiz a minha parte, mas os dev não desenvolveram não pode ter isso, entendeu?
Alexandre: É o time todo, time é um só. É.
Yasmin: Qualquer outra variação dessa frase, um culpando o outro, o outro culpando, não é isso entendeu? Então acho que tem que ser, sabe essa… é que aqui na DTI a gente é muito obcecado com flow, de atingir o flow, que significa na minha cabeça, sempre significou atingir essa sequência de atividades que todas as disciplinas fazem juntas de uma forma tão fluida que é quase como se todo mundo fosse da mesma disciplina que é entregar valor, não tem nem… meu sonho. Bem sonhadora, mas é quase como se o time todo não tivesse quase nem distinção de quem é de produto, quem é de engenharia, quem é de design, todo mundo entregando valor o tempo inteiro. Achar esse flow eu acho que é sempre muito importante, agora ficou mais importante ainda.
Pedro: Nossa, e deixa só eu comentar, já que você falou isso, o scrum master que habita em mim ele…
Giulia: Acordou?
Pedro: Sim, ele acordou, porque se a gente ficar, porque inclusive a palavra vai ser produtividade, a gente cansa de repetir isso, mas se a gente ficar buscando produtividade individual isso vai conflitar com o objetivo do time, do grupo. Isso é um perigo gigantesco, se um desenvolvedor ou um cara de produto quiser elevar a sua produtividade sozinho ele vai deixar de colaborar com o cara que está precisando e ajuda ali por exemplo a entrega do time vai ficar menor de qualquer jeito, então isso é um perigo gigantesco. E Alê, você tem aí alguma dica para a gente first step?
Alexandre: O que eu acho que eu colocaria como principal que a gente fala muito e tem talvez muitas referências que falam disso, mas é muito difícil colocar na prática acho que seria a principal coisa para mim é pequenas interações, entregas pequenas. Acho que a gente fala muito disso e é muito difícil de fato fazer, mas para esse momento é a gente quebrar as entregas em pequenas entregas e gerar valor no menor possível, fazer de fato o MVP e a gente transformar isso em pequenas entregas de valor, porque é assim que a gente consegue provar para os stakeholders que o que a gente está fazendo é de fato entrega de valor, que a gente consegue apoio para retroalimentar os projetos e de fato ir conquistando tudo que a gente consegue para gerar esse momento de dificuldade aqui e conseguir gerar valor.
Yasmin: Tem só mais uma coisinha, já que na sequência de fucking first step esse não é nem o primeiro passo, é o passo zero. Se você que está ouvindo não sabe justificar o porquê você está fazendo o que você está fazendo, busque urgentemente uma justificativa boa, uma boa explicação, porque alguém vai te perguntar e você precisa responder.
Pedro: Motivo é…
Yasmin: Não, parece idiota, mas é verdade, gente.
Alexandre: Sim.
Yasmin: No momento em que tinha muito investimento em digital eu acho que tem mesmo, infelizmente, muita iniciativa meio questionável, vou falar questionável.
Pedro: É, ótima palavra.
Yasmin: Que não para muito de pé, você vê que gasta uma grana danada para pouco retorno, não tem nem uma expectativa de retorno. Lógico que sempre vão ter os projetos mais inovadores, uma coisa mais longo prazo, beleza, esses existem tranquilo. Mas você tem que parar para refletir e saber responder isso muito bem, eu acho. Você tem que imaginar que você vai ser convidado para ir no Shark Tank e você tem que se defender lá para ver se você ganha o investimento, todo mundo tinha que saber responder isso. E ser convincente, acho que a pessoa de produto, todos, mas a pessoa de produto principalmente tem que ser convincente em falar a linguagem de negócio.
Pedro: Isso que eu ia te perguntar, quando você fala você são todos vocês do time, não é só o PO, não é só o SM, todo mundo tem que ser capaz de fazer esse pitch, de responder porque você está ali.
Giulia: E assim, o papel da pessoa de produto é extremamente importante nesse sentido porque muitos dos casos vai ser quem vai ter o contato legítimo com a informação, então, principalmente informações de negócio. Para que o time esteja alimentado do que é prioridade, para que o time tenha visão de para onde vai priorizar e porque está fazendo aquilo daquela forma muitas das vezes vai depender da transparência e da passagem de informação da pessoa de produto.
Pedro: Tem que convergir se todo mundo vai trabalhar com o mesmo caminho.
Giulia: É, exatamente, tem que ter diálogo, tem que ter ali a troca. E aí entra um pouco no que a Yas comentou antes de ser esse trabalho de uma maneira muito orgânica e harmoniosa do time como um todo, entendendo que está todo mundo resolvendo o mesmo problema, que está todo mundo buscando essa mesma justificativa aí de porque o time existe.
Pedro: Eu fiz esse exercício nas minhas tribos no ano passado alguns meses atrás, eu obriguei a galera, mentira, não obriguei não.
Yasmin: Coagiu.
Pedro: Eu fortemente encorajei, encorajei fortemente todos os times a preencherem em conjunto com as pessoas do cliente um product canvas, mais simples que fosse. A gente acha que esse exercício por si só já foi sensacional, sabe? Claramente tinham pessoas que não sabiam nem quem era o público-alvo, qual era a necessidade de negócios que aquele produto estava resolvendo, quais os objetivos de negócios que estavam atrelados, então assim, eu acho que de tempo em tempo esse exercício tem que ser feito, tem que estar na rotina.
Giulia: É quase um exercício de análise e síntese, porque muitas das vezes tem conhecimento para caramba, o time já levantou um monte de informação, só que está tudo pairando no universo e ter esses momentos para poder refletir, olhar e falar assim não, espera aí, vamos organizar o que a gente tem. Caramba, se encaixar aqui faz um quebra-cabeças que faz muito sentido, então é de conseguir fazer esses momentos também de reflexão. Acho que isso é uma coisa importante, talvez você consiga até ajudar a gente um porquinho nisso, Alê. Não quer dizer que porque o foco vai estar mais forte em entregas que a parte de reflexão, a parte de entender para que a gente está fazendo as cosias deixe de fazer sentido, não é? Fazer esse movimento de não só entregar, mas refletir em cima do que você está entregando, continua sendo uma coisa muito pertinente.
Alexandre: Eu acho que assim, o foco tem que sempre existir para a gente não gastar esforço naquilo que a gente não deveria estar colocando esforço. Mas a reflexão também é uma coisa superimportante, porque igual a Yas comentou, porque a gente está fazendo algo é uma pergunta que deveria ser feita constantemente, estamos entregando algo que deveríamos, aliás, estamos fazendo algo que deveríamos estar fazendo? Se a resposta for não sei já começa com um grande problema, porque a gente deveria estar sempre se perguntando se o que a gente está fazendo faz sentido, se a resposta é não sei a gente deveria pelo menos investigar Se a resposta for não você com certeza está gastando tempo, se a resposta foi não sei, talvez estamos gastando tempo à toa, acho que além do foco que a Yas falou que é o step zero, não é o primeiro, step zero, concordo totalmente. A reflexão sobre se o que estamos fazendo faz sentido é superimportante.
Yasmin: E só para, disclaimer e de tudo que a gente falou, a gente está dando enfoque em algumas práticas de produto sem tirar a importância de todas as outras que já existem, só porque…
Pedro: Claro.
Yasmin: …nesses momentos de reflexão ou de mais austeridade a galera também a então agora eu não preciso olhar mais para métricas, não preciso mais fazer pesquisa, não gente, calma também, vamos, tudo continua sendo relevante, tudo que a gente até aqui nos agilistas fala exaustivamente. A gente falou, teve um episódio todo sobre produto certo, que é justamente isso, todas as práticas que um time deveria ter para garantir que está acontecendo a coisa certa, então todas continuam valendo, ninguém cancelou a disciplina de produto ainda não, mas eu acho que o que a gente está tentando trazer aqui é só um enfoque mesmo, que deveriam ser dentro desse guarda-chuva de coisas dentro da disciplina de produto que a gente deveria estar mais de olho ainda nesse ano. Como se fosse quase um isso daqui a gente precisa garantir mesmo, inegociável.
Giulia: Exatamente. Bom, gente, temos um episódio.
Pedro: Bom momento para encerrar, com essa reflexão.
Giulia: Até porque vai demorar uns dois dias para poder digerir tudo.
Pedro: Tá certo. Agradecer a presença aí dos nossos convidados Yas e Alê.
Yasmin: Por nada gente, foi um prazer, obrigada pelo convite.
Alexandre: Valeu pessoal.
Pedro: Valei gente.
Giulia: Até mais.
Um novo ano, um novo cenário. Como se preparar para prosperar em 2023? No episódio de hoje, convidamos Alexandre Loriggio juntamente com Yasmin Fonseca, para apresentar algumas tendências de produto para esse novo contexto. Dá o play!
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