M1: Bom dia, boa tarde, boa noite, este é mais um episódio de Enzimas –
breves reflexões que te ajudam a catalisar o agilismo em sua organização.
Matheus: Tudo bem, pessoal? Eu sou o Matheus Dias, tech manager da DTI.
Para falar de agilidade, falar de transformação, é importante a gente falar
sobre pessoas. Nesse tema, a síndrome da pessoa impostora, o fenômeno
da (fraude) sempre foi um assunto que mexeu muito comigo
porque se sentir um impostor, se sentir uma fraude é esse sentimento de
quando você, ainda que os seus pares e os seus colegas te elogiem e ainda
que a sua trajetória profissional mostre que você é uma pessoa talentosa,
qualificada, esforçada e teve importantes conquistas ao longo do seu
tempo, quando você se sente um impostor, você não consegue entender
que isso é parte do seu crescimento, que essa conquista, que esse sucesso
é fruto do seu trabalho. Você entende que isso, na verdade, é uma falha de
percepção dos outros, que na verdade você é falho, você é errado, que você
está fadado ao insucesso, os outros é que ainda não perceberam que você
é uma pessoa sem qualidades, que você só conseguiu sucesso, só cresceu
profissionalmente por isso, porque as pessoas não souberam julgar muito
bem quem você é. Isso é um sentimento muito ruim porque o sucesso,
novas oportunidades, se arriscar profissionalmente, são coisas que a gente
quer o tempo todo, a gente quer crescer, a gente quer ter sucesso, a gente
quer alcançar e conquistar novos objetivos, mas, quando a gente está se
sentindo um impostor, a gente tem receio de se arriscar, a gente tem receio
de aceitar uma promoção, a gente tem receio de ver com bons olhos um
elogio, uma boa recomendação, por exemplo, porque a gente acha que isso
vai deixar a gente mais exposto, e quanto mais exposto, maior a chance de
as pessoas perceberem que nós não estamos bem preparados e bem
qualificados para algum papel. E todo mundo perde com isso. Nós
perdemos boas oportunidades, perdemos chances de crescer, de alavancar
a nossa carreira; as empresas perdem inovação, o time que a gente
trabalhar perde a confiança porque, se eles nos veem como bons
profissionais, profissionais capacitados, como referências, mas nós nos
vemos enquanto impostores, recusamos oportunidades, fugimos de
responsabilidades, o que a gente transmite para a equipe é que eles
também ainda não estão preparados, que eles também precisam recusar,
e isso também é algo negativo para eles. Todo mundo sai perdendo quando
a gente deixa os impostores dentro de nós falarem mais alto do que a nossa
história profissional, falarem mais alto do que a nossa trajetória, do que as
nossas conquistas. Esse ciclo de autossabotagem é uma característica muito
forte da síndrome da pessoa impostora porque a gente começa a recusar
oportunidades, a gente não se arrisca e, por não se arriscar, para não
receber as novas oportunidades, para não aceitar uma promoção, a gente
não evolui, não cresce na carreira e começa a entender que a gente não
está crescendo porque a gente, de fato, é falho, de fato, é errado, enquanto
todo mundo à nossa volta está crescendo, e a gente acha que é porque eles
são melhores do que a gente, a gente se sente mais inferiorizado, mais
despreparado e, portanto, recusa mais oportunidades, se sente menos
propenso a arriscar, e esse sentimento, realmente, ele vai gerando uma
bola de neve que não deixa a gente progredir, não deixa a gente crescer de
fato, e o sucesso, que deveria ser algo que te proporciona alegria, te
proporciona felicidade, passa a ser uma fonte de estresse, uma fonte de
nervosismo. E como é um sentimento que a gente tem sobre nós mesmos,
nós nos enxergamos enquanto impostores, enquanto fraudes, enquanto
pessoas que não mereciam o sucesso que têm, a tendência é que a gente
ache que isso só acontece com a gente. Na verdade, a síndrome da pessoa
impostora, ela é mais comum do que parece, por isso que ela foi chamada
de fenômeno no início, porque era algo comum no estudo original, onde as
mulheres que estavam assumindo a liderança de grandes empresas, elas
também se sentiam impostoras naquela época, e eram mulheres muito
bem qualificadas, muito bem recomendadas para os seus papéis. (Como)
a gente acha que só acontece com a gente, a gente fala muito
pouco sobre isso, a gente expõe muito pouco esse sentimento, a gente acha
que a gente tem que resolver isso sozinho, que é a forma correta de fazer.
E muito pelo contrário, a forma certa é compartilhar, é falar sobre isso.
(Quando) a gente vai pesquisar na internet, tem muitas pessoas
muito bem-sucedidas, famosas – Natalie Portman, Michelle Obama, Neil
Gaiman – que também já passaram por esse sentimento de impostor, já
também tiveram seu momento de se sentir uma fraude, e eles contam
como que falar sobre isso, como perceber que isso era mais comum do que
eles achavam foi algo fundamental para eles superarem essa fase. Então,
essa questão de ambiente, de comunidade, ter um ambiente à sua volta
que vai te mostrar que errar é parte do processo, que o erro não te define,
que o importante é o aprendizado, é o processo, é a forma como você
consolida. São as pequenas conquistas ao longo do seu caminho que vão
marcar mais, que vão ser mais importantes para você, para sua equipe, para
a sua empresa, do que um erro ou uma falha. Errar é comum, errar é
natural, e a gente precisa criar um ambiente que mostre, de fato, isso, não
só falar sobre isso, não só falar que o erro é algo aceitável, mas de fato
mostrar e ter um ambiente em que as pessoas possam, em primeiro lugar,
serem elas mesmas, não precisar se enquadrar em um padrão ou um
formato ou estilo de cultura que não abrace diversidade, que não abrace
variedade de opinião, e, nesse ambiente, mostrar que errar é natural, faz
parte do processo e a gente está OK com isso. O importante é a gente
transformar esse erro em um degrau de crescimento, então, compartilhar,
se abrir, entender que isso é algo natural, que é uma fase que a gente
precisa superar. E estar um ambiente, criar esse ambiente, valorizar esse
ambiente que vai te permitir ser você mesmo, que vai te permitir agir com
confiança e vai te mostrar que errar é natural, que o importante é crescer,
são questões fundamentais para a gente conseguir superar os impostores
em nós, nos nossos times, nos nossos colegas, permitir que a gente cresça
profissionalmente e, realmente, voltar a ter alegria com o sucesso e voltar
a ter alegria com o crescimento, voltar a ver isso com bons olhos. Por isso
que eu acho que essa questão de ambiente, de lidar com o impostor que
existe na gente é fundamental para a gente poder pensar em inovação,
pensar em crescimento, e a gente precisa se arriscar. Quando a gente
arrisca, algumas vezes, a gente vai errar, algumas vezes, a gente vai falhar,
mas o sucesso que vem de um processo contínuo de se arriscar, de se
provar, de se permitir coisas novas, é realmente algo muito gratificante.